quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A ARTE E A ESTÉTICA DE

OLAVO TENÓRIO

O desenho se mistura com a arte, que se mescla com objetos elevados à categoria de jóias. Esse artista plástico, designer e ilustrador paranaense ultrapassa limites e mostra sua alma nas peças que cria

 
Olavo com uma das suas criações, o pendente "Gigante", com 27 000 peças de cristal
 
Nada fácil conceituar a obra do artista plástico paranaense Olavo Tenório. Passeia pela arte utilitária sem deixar de ser obra de arte ou até mesmo jóia. Eu o conheci nos bons tempos do jornal Gazeta Mercantil, lá por 2001. Ele era um dos ilustradores. Mas guardava em si uma alma de Artista. Assim, com "A" maiúsculo.
 
Em design, seu forte são luminárias, pendentes ou de mesa, quase 100% artesanais. Todas com um quê de novo, de objetos que passam a sensação de ideias frescas, iluminadas - sem trocadilhos.

Detalhe mais que importante: Olavo criou uma série de luminárias com cristais Swarovski há mais de dez anos, quando ninguém ou quase ninguém no mercado brasileiro trabalhava com esse material.

"As primeiras peças tinham os cristais, mas estavam mais para uma mistura entre escultura, cores fortes e a intervenção da luz dando algo de funcionalidade. As cores e as formas orgânicas não fizeram sucesso comercial. Vingou o gosto convencional: cristal, alumínio, aço, luxo, brilho, glamour, essas coisas todas que são vendidas hoje com uma bula pronta. Mesmo assim, o meu desenho estava lá. Aliás, fui um dos primeiros, ou quem sabe o primeiro aqui no Brasil, a fazer peças modernas com cristais", diz Olavo. 

Em 2008, lançou, em Curitiba, o livro "Estrutura e Flutuações", onde mostra um pedacinho daquilo que faz: desenho, escultura, design, luminárias, fotografia, ilustração. Em breve, o livro será lançado também em São Paulo (local e data ainda a serem definidos).

A publicação, independente, registra sua produção durante vinte anos de trabalho, período em que criou de murais públicos no interior do Paraná, até peças de design para empresas internacionais. O livro ainda mostra sua atuação como ilustrador em grandes editoras de São Paulo e Curitiba.
Textos de apresentação de A.H. Fuerstenthal. Edição bilingue português-inglês,
180 reproduções coloridas, 130 páginas, formato 21,5x27cm, R$ 45,00.

Consultor em Ciências Comportamentais,  A. H. Fuerstenthal, conheceu e se apaixonou pela obra do talentosíssimo Olavo, em 1999. São dele os textos de apresentação do livro, incluindo o prefácio.  Fuerstenthal escreve com tanto ardor e descreve com tanta precisão a obra de Olavo Tenório que eu decidi reproduzir um naco do prefácio aqui:
 
"Este artista é um mestre das formas. Seja num móbile, num corpo de luz, numa composiçãode estruturas contrastantes, na simbolização de um animal, num broche, num desenho, numa pintura ou em outra coisa que ainda não fez, mas certamente fará, ele se destaca pela originalidade, pela inspiração, pela simplicidade e pela espontaneidade estética.
 
O que impressiona em Olavo é a ausência de um comprometimento. É moderno só no sentido de não seguir nenhum estilo historicamente marcado: não é gótico, nem barroco, nem renascentista e muito menos expressionista ou impressionista. O seu estilo pode ser chamado de "musical", uma vez que cada uma das suas figurações toca o espectador como se fosse um som, ou melhor, uma harmonia que agrada os sentidos sem que se saiba extamente o porquê.
 
Outro traço característico de Olavo é a "unidade". A obra e a pessoa são uma e a mesma coisa, tendo a mesma elegância genuína, o mesmo alongamento, a mesma sinuosidade e significação.
 
E não é só isso. A unificação estende-se também ao meio em que vive e cria este artista. Olavo expressa o melhor do Brasil, suas danças, seus cantos, seus sorrisos, seus abraços e sua gentileza que atrai os visitantes, apesar das desavenças sociais, desordem e insegurança.
 
Olavo tem a resposta certa para todos aqueles embaraços do meio tropical: pega a madeira, o metal, o acrílico, o cristal e raios de luz para criar um mundo de pequenos milagres, capazes de dar à pessoa sensível um impacto de beleza em plena existência cotidiana."

 Luminária de mesa "Cabeluda" - peruca com fios de nailon, alumínio e led - 2010

Pendente "Buquê" - estudo feito em papel e arame pintado, recortado artesanalmente, folha por folha - 2009
 
"A Buquê mede 80cm de diâmetro, aproximadamente. Todas minhas peças geralmente nascem de um processo de pensar em termos de formas e sua passagem ao mundo tridimensional. Num sentido diferente nasceu a linha Suprema: primeiro veio a questão de economia num produto de fácil montagem, bonito e acessível. Depois, joguei essa problemática para o pensamento escultórico solucionar. Ou seja, uma se desenvolve no diálogo livre entre a luz, materiais e estética. A outra nasce de uma necessidade de economia sem deixar de lado a prática artística.

 
 
LINHA SUPREMA
Esse é o primeiro abajur da linha Suprema, de 2012. Ele é todo montado com quadrados levemente curvos nas pontas. O nome, Suprema, foi dado em homenagem ao Suprematismo, movimento artístico Russo que valoriza as formas simples, como o quadrado e o círculo.
 
Mais Suprema. Acrílico colorido - 2012 
 
 Outra da série Suprema, essa em acrílico e cristal - 2012

"Refletir sobre o que fiz e o que quero fazer tem se tornado quase uma obsessão para mim. O mundo cotidiano e seus acontecimentos, o mundo interno e sensorial, em nossa mente eles se tocam. Esse 'toque' é que quero rastrear. Tipo aquelas fotografias que tiram de partículas. Ninguém as vê, mas seu rastro deixa uma certeza da existência delas."

Abajur "Torre Estelar" - madeira e cristal - 61x61x55cm - 2004
 
Luminária "Cabaça". Latão escurecido e malha de cristal - com 31cm de altura - 2004. Note que a faixa iluminada vem da luz incandescente vermelha em seu interior.


Abajur Cristal - resina e cristal - 31,5x31,5x25,5cm - 2003


Vista interna da escultura Caleidoscubo - 85x85x100cm - madeira, espelhos e acrílico - 2005 - acervo particular

Luminária de chão "Zenit"- madeira e cristais quadrados, 170cm de altura - 2006
 

LUMINÁRIAS DA SÉRIE "MANGÁ", COM ESTAMPAS DE QUADRINHOS JAPONESES

Vinil adesivado aplicado sobre acrílico. Base em madeira pintada. Lâmpada incandescente.



Abaixo, três abajures com design também inspirado nos mangás, histórias em quadrinhos japoneses. São estudos para uma coleção em parceira com a Comix, de São Paulo.
 
 
Luminária "Bye, Bye, Liz", feita com material reciclado e led. Acervo do Estúdio Co.Lage - São Paulo - 2011.

Duas Torres - Aço pintado e cristal Swarovski - 18x32,5x6,5 cm - 2004
 
Torre de alumínio - alumínio, cristal e led - 33x150x33cm - 2004
 
 

NO INÍCIO ERA O CUBO
 
Durante uma exposição na cidade de São Paulo, da qual participou com mais dois artista plásticos amigos, Novaes Oc e Fábio Cruz, Olavo Tenório apresentou uma pequena escultura em forma de cubo. "Um cara chamado Sten viu meu trabalho e me colocou em contato com a Swarovski", diz Olavo. "Simples assim", afirma. "O cara se apaixonou pelo meu trabalho e nos tornamos amigos. Daí o início de minha pesquisa com o cubo."
 
"Cubo Vazado". Essa foi a peça que deu origem a toda uma série de escultura-arte-jóia baseadas nessa forma geométrica e a parceria com a Swarovski do Brasil - 27x27x27 cm.
 
 
Outra peça da séria "Cubo Vazado" 
 
Interior-Exterior - madeira, latão e cristal - 100x100x50 cm
"Caleidoscubo I" - Madeira laqueada e cristais cravejados sobre marfim - 10x10x10cm - 2004
 
Minicubo - latão e cristal - 2,5x2,5x2,5 cm.
 
 Minicubo - Latão - 2,5x2,5x2,5 cm 
 
Cubo espelhado - madeira, aço inox e cristais - 16x16x16cm
 
Peça exposta na Exposição Geometria da Luz - Curitiba (PR). "Mesa Elevada ao Cubo" -  madeira, vidro e cristais - 95x50x95cm - 2004.
 
Caleidoscubo III - madeira, espelhos, latão e cristais - 85x85x100cm - 2006

 Parte da peça "Caleidoscubo III". Estes componentes se integram em seu interior.

Vista interna do "Caleidoscubo III"
 
Minicaleidoscubo - 10x10x13 cm - 2006
 
OS PENDENTES DE OLAVO TENÓRIO
Segundo o cientista comportamental A. H. Fuerstenthal, os lustres de Olavo Tenório não são objetos de arte e, sim, artesanato, como, por exemplo, os famosos vasos de mármore que adornavam os templos da Grécia Antiga.
 
Contudo, diz Fuerstenthal, a diferenciação entre arte e artesanato não é axiomática. Uma peça artesanal, de alto valor estético, única e original, está certamente mais próxima da arte que do artesanato.
 
Este é exatamente o caso de Olavo Tenório. Ele é um artista para o qual a criação de peças artesanais representa um desafio especial. O desafio consiste na preservação do cunho pessoal e do nível estético, concomitantes com a finalidade do objeto.
 
Pendente Morfose - Cristais Swarovski, alumínio fundido e led azul - 14x18x62cm - 2004
 
Pendente "Casuluz" - tecido, arame e cristais - 150x46x42cm - 2004.
 
"O Casuluz surgiu de um esboço de escultura, as formas orgânicas vira e mexe aparecem em meus desenhos, mas para funcionar como um pendente de luz transformei-o numa peça oca só de arames e tecido. Naquela época (2004) começava meu fascínio pelos cristais, eles complementam a peças dando um ar psicodélico, como uma pista de dança. Lembra um estroboscópio. Aliás, isso tem a ver com minhas ideias de movimento e interação com o público." - Olavo Tenório
 
Os lustres de Olavo transcendem a finalidade da iluminação. Neles, a luz é transformada em um elemento estético. A utilidade é ultrapassada pelo prazer da contemplação. O efeito desses lustres não é claridade e, sim, o estado emocional, que na língua inglesa é chamado de "mood".
 
Neste efeito estético e emocional está o mistério da criatividade do artista.
 
Experimentalmente, este mistério poderia ser compreendido como a síntese de uma porção de efeitos antagônicos, diz A. H. Fuerstenthal. "Poderia-se dizer que as obras de Olavo se destacam pela coexistência de:
 
Estrutura e Flutuação;
Leveza e Gravidade;
Equilíbrio e Movimento;
Improviso e Planejamento;
Repetição e Surpresa;
Cálculo e Inspiração
 
...e outros, de acordo com a sensibilidade do espectador."
 
"Olavo é um homem de visões originais e portador de uma habilidade excepcional para traduzir essas visões em objetos", enfatiza Fuerstenthal.

Lustre "Gigante" - 140x180x420 cm - 2004.

"Em 1999, durante uma exposição que participei com alguns colegas do jornal Gazeta Mercantil, tive a felicidade de conhecer o Dr. A.H. Fuerstenthal. Encantado com minhas esculturas ele me apresenta ao Sr. Henning Dauch, na época, gerente do escritório da Swarovski em São Paulo. Desse encontro nasce uma parceria que resultou mais tarde na série de luminárias e esculturas criadas com os famosos cristais. A exposição "Geometria da Luz" foi realizada em Curitiba (PR), em 2004." - Olavo Tenório
 
Na foto acima, entrada da exposição no piso mezanino, Memorial de Curitiba. O obra contém 27.000 cristais medindo 4,5m de comprimento por 1,80 de altura.


 

Esboço da luminária "Gigante", com 27 000 cristais Swarovski armados sobre linhas de aço: 4,50m de comprimento x 1,80m de altura x 1,40 de largura.

Revista Cristal News - Divulgação da exposição "Geometria da Luz", em revista da Swarovski  austríaca.


Pendente "Balão" - cristais em fios de aço - 60x60x160cm - 2004
 
Projeto especial para arquiteto Mauricio Pinheiro Lima - 2004. Feito para o Hotel Bourbon, em Curitiba (PR)
Projeto especial para Arquiteta Silvia Franzoni, Curitiba (PR) - 2004 - 70x70x70cm cada um, com cristais Swarovski.
Projeto especial para Swarovski Components do Brasil e para o arquiteto Leo Shehtman - Casa Cor São Paulo 2004 - 90x180x300cm.


Duas faces do mesmo pendente "Chuva Cósmica" - milhares de cristais Swarovski inseridos um a um.

Lustre "Arcos" - 2,00x1,80x0,90 cm de largura cada. Duas peças estão instaladas no hall do escritório da Swarovski em São Paulo.


Esses pendentes de cristal permitem montagens em módulos, com tamanhos e formas que podem se adaptar ao projeto arquitetônico. Acima, três projetos de 2008.


Casa Cor Curitiba 2005 - Espaço Carlton, do arquiteto Ivan Wodzinsky.

Luminária pendente - projeto desenvolvido por encomenda - Curitiba PR

 
ARTISTA DE VÁRIAS VERTENTES
Fruteira "Vagem" - alumínio e cristal - 61x27x21,2cm - 2004

Instalação: escultura sobre placas de MDF pintado - 100X50cm, aproximadamente 
 
Os desenhos acima e os dois abaixo são estudos para Biblioteca de São Paulo. No jardim de esculturas, placas em homenagem aos artistas gráficos do Brasil.
 


Proposta apresentada por encomenda para Jardim da Biblioteca de São Paulo. Conjunto de esculturas como suporte para placas em homenagem aos artistas gráficos do Brasil. Projeto digital - Madeira, vidro e placa de cimento.
 
 
OLAVO TENÓRIO POR ELE MESMO
 
Nasci em Goioerê, no Paraná, e sempre adorei desenhar e mexer com materiais diversos. Meu pai era músico e tinha uma oficina de consertos de acordeon, uma verdadeira fonte de elementos estéticos e sonoros que alimentou meu imaginário.

Aos 9 anos de idade, dei meus primeiros passos copiando os personagens de gibis do Walt Disney e os super-heróis da Marvel Comics. Com 13, lembro de ter criado uma raquete de tênis de mesa usando madeira e borracha, e de também ilustrar cartazes para uma gráfica da cidade.

Em 1990, me formei na Escola de Belas Artes de Curitiba. Depois disso, segui carreira como ilustrador de livros e revistas em várias editoras de São Paulo. Em 2000, comecei a criar luminárias e jóias em parceria com a Swarovski do Brasil. Um bom exemplo disso é a luminária de mesa Concha (foto), feita de cerâmica e cristais, no ano de 2004.


Fonte: arquivo pessoal Olavo Tenório, http://www.otluminarias.blogspot.com






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